mas nunca mais voltarão
na onda deixaram o seu traço –
no fundo do mar cai então uma concha
bela como lábios petrificados
estes que andavam pelo caminho de areia
mas não chegaram às portadas
embora avistassem já os telhados –
e no sino do ar encontram abrigo
e aqueles que só deixam órfão
um quarto gelado alguns livros
um tinteiro vazio uma folha branca –
na verdade não morreram inteiramente
por bosques de papel de parede avança o seu sussurro
no tecto mora uma cabeça plana
de ar água cal terra
fizeram o seu paraíso o seu anjo de vento
irá com a mão fazer pó dos seus corpos
vão
dispersar-se pelos prados deste mundo
Zbigniew Herbert, Ítaca 3, traduzido do polaco por Izabela Stapor, J. P. Moreira e Tatiana Faia
Sem comentários:
Enviar um comentário